Os estudantes recorrem cada vez mais ao ChatGPT, uma ferramenta de inteligência artificial generativa, para fazer face às elevadas cargas de estudo a que sejam sujeitos, sugere uma nova investigação publicada no International Journal of Educational Technology in Higher Education. O estudo revela também uma tendência preocupante: a dependência do ChatGPT está associada à procrastinação, perda de memória e à diminuição no desempenho académico. Estes resultados deixam um alerta para o papel potencialmente perigoso da inteligência artificial generativa na educação
Apesar do potencial para auxiliar na aprendizagem e investigação, há uma crescente preocupação entre os educadores sobre o uso indevido de sistemas de inteligência artificial, especialmente em relação à ética académica.
“O meu interesse por este tópico surgiu da prevalência crescente da inteligência artificial generativa na academia e do seu potencial impacto nos estudantes”, explicou o autor do estudo, Muhammad Abbas, professor associado na FAST School of Management da National University of Computer and Emerging Sciences no Paquistão, citado pelo site PsyPost. "Durante o último ano, observei uma dependência crescente e não crítica das ferramentas de inteligência artificial generativa entre os meus estudantes para várias tarefas e projetos que atribuí. Isso levou-me a aprofundar a compreensão das causas e consequências subjacentes ao seu uso."
Para compreender estas dinâmicas, o estudo foi realizado em duas fases. Inicialmente, os investigadores desenvolveram e validaram uma escala para medir o uso do ChatGPT por estudantes universitários para fins académicos. Começaram por gerar um conjunto inicial de 12 itens, que foram refinados para dezapós avaliações de peritos para validação de conteúdo. A seleção final ficou reduzida a oito itens que pretendiam medir de forma eficaz até que ponto o ChatGPT era usado no meio académico.
A escala incluía afirmações como “utilizo o ChatGPT para as minhas tarefas do curso”, “sou viciado no ChatGPT quando se trata de estudos” e “o ChatGPT faz parte da minha vida no campus”.
Na segunda fase do estudo, os investigadores procuraram validar os resultados da primeira fase enquanto testavam hipóteses específicas relacionadas com o impacto do ChatGPT. A amostra consistiu em 494 estudantes universitários que foram inquiridos em três momentos diferentes, cada um separado por um intervalo de 1 a 2 semanas.
Esta abordagem com atraso temporal permitiu aos investigadores recolher inicialmente dados sobre variáveis preditoras (carga académica, pressão temporal, sensibilidade a recompensas e sensibilidade à qualidade), seguido pela medição do uso do ChatGPT e, finalmente, a avaliação dos resultados (procrastinação, perda de memória e desempenho académico).
Abbas e seus colegas descobriram que níveis elevados de carga académica e pressão temporal foram se traduziram num aumento d uso do ChatGPT, sugerindo que os estudantes que se debatem com stress académico significativo têm maior probabilidade de recorrer a ferramentas de inteligência artificial generativa para levar a cabo várias tarefas de âmbito educacional.
Os estudantes que eram mais sensíveis a recompensas tinham menos inclinação para usar o ChatGPT, indicando uma possível preocupação com a integridade académica e as potenciais consequências negativas de depender da inteligência artificial para tarefas académicas.Além disso, o estudo descobriu efeitos adversos significativos do uso do ChatGPT nos resultados pessoais e académicos dos estudantes.
Uma maior dependência do ChatGPT foi associada a níveis mais elevados de procrastinação e perda de memória, e um impacto negativo no desempenho académico, refletido na média das notas dos estudantes. Estes resultados sugerem que, embora o ChatGPT possa ser um recurso valioso em certas circunstâncias, o seu uso excessivo pode levar a efeitos prejudiciais nos comportamentos e resultados de aprendizagem.