Bob Dylan Center | Fotografia: Lester Cohen, Getty
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Bob Dylan será o último pensador a fazer-nos pensar assim

O bilhete de entrada para os últimos concertos de Bob Dylan deram acesso privilegiado a qualquer coisa bem maior do que a música e bem mais importante do que o teu telemóvel.

"Precisamos de algo que nos abra uma nova porta, que nos mostre algo que já vimos antes, mas que nos passou despercebido uma centena de vezes ou mais"
[Bob Dylan]

Bob Dylan esteve este mês em Portugal e trouxe-nos bem mais do que música e muito mais do que um espetáculo com borboletas na barriga. Não seria de esperar algo diferente de um artista e poeta que é também ele um pensador. Um ícone da cultura no mundo que se atreve a ser original porque só os corajosos e espertos de espírito o conseguem ser. Dylan fez-se valer da sua audácia e proibiu telefones durante os concertos. Todos os espetadores tiveram de entregar os dispositivos à porta e colocá-los em bolsas, como um severo castigo. Dylan cortou-nos os membros e foi trágico. Afinal, todos sabemos que só se navega neste mundo com um telefone na mão, tudo o que conhecemos é filtrado por um ecrã e ninguém se atreve a viver qualquer experiência sem tirar todas as fotografias possíveis porque só assim validamos o que sabemos, o que sentimos ou o que vimos. Dylan trouxe mais uma aprendizagem que, neste mundo a 400km/h, se perdeu entre tanto barulho e caras feias.

É que ninguém gostou de ser separado do seu iphone, principalmente, antes mesmo de entrar no espetáculo. Quando a promotora dos concertos Everything is New anunciou a medida e referiu que uma equipa ficaria com os telefones "toda a noite”, todos os cegos não quiseram ver o que Bob Dylan ali nos dizia. Ele queria reensinar-nos a viver as coisas, lembrar-nos do que é sentir sem artifícios.

É desafiador aceitar esta ideia, até para os curiosos deste mundo que já desistiram de sair dessa rede de segurança. Se no trabalho as máquinas já pensam por nós e o dinheiro está na rapidez da execução de tarefas e pouco no pensamento crítico e criativo, de que vale fugir de uma era que obriga ao consumo e a um comportamento que só é aceite em linha de montagem?

Parece que só estivemos a falar de telefones e tecnologias, mas não. Este foi apenas um dos últimos embalos para entrar no mundo Bob Dylan, um dos poucos gigantes que restam a pensar assim e, certamente, a fazer-nos pensar assim.

Todos sabem dizer que a cultura está perdida e que o vazio é uma constante adquirida, mas, quando estamos cansados, é tão mais fácil nadar a favor da corrente... e atender o telemóvel.

"As pessoas raramente fazem aquilo em que acreditam. Fazem o que é conveniente e depois arrependem-se"
[Bob Dylan]

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