Numa rua sossegada em Lisboa, nasceu em 2019 o restaurante Drogaria. Veio reavivar o bairro situado entre a Lapa e a Pampulha, que faz parte das memórias do proprietário, Paulo Aguiar, que quis trazer para este espaço os sabores portugueses com um toque moderno e técnicas inovadoras, bem presentes nas mais recentes novidades da carta.
É da autoria do chef consultor João Hipólito, com raízes em São Vicente da Beira, que nas novas propostas manteve a essência de sempre.
“Tentei trazer a sazonalidade bem como ingredientes da ‘terra’ que o Paulo, o João Caio e eu temos em comum: a Beira Interior”, diz o chef à Versa. João Caio, com apenas 24 anos, é o chef que está diariamente à frente da cozinha do restaurante, onde chegou depois de ter passado por Barcelona, Algarve e Covilhã, e ainda pelo Canadá, onde trabalhou com o conterrâneo João Hipólito que viria mais tarde a convidar o jovem chef para integrar este projeto que homenageia a cozinha portuguesa.
Com inspiração de todo o mundo, mas sem nunca esquecer as suas raízes e as receitas da mãe e da avó, Tiago Hipólito reinventa os mais tradicionais sabores portugueses, com produtos nossos, frescos e de qualidade. Exemplo disso são os novos croquetes de bacalhau com natas (€11 por quatro unidades), o lírio dos Açores banhado em molho ponzu de citrinos do Algarve (€15) e a sapateira sobre torrada de brioche, coberta por uma espuma que parece vinda diretamente do mar (€14).
Nos pratos principais, destaca-se o reconfortante pregado assente em massada de mariscos (€25), a “Lasagna” de Caça (€23) e o polvo na grelha com batata-doce, alecrim e cebolinhas (€25), com empratamento da autoria do chef João Caio.
“O João é um profissional de mão cheia que está ainda na fase inicial da sua carreira, mas com um potencial enorme. A próxima mudança de carta já irá ter, seguramente, algumas das suas ideias. O João adora as suas raízes beirãs e provavelmente será onde ele se irá inspirar para contribuir para a divulgação da gastronomia local, que ainda é pouco divulgada”, afirma João Hipólito sobre o futuro do jovem chef.
De volta às novidades, nas sobremesas destaca-se ainda a mousse de chocolate com alfarroba, figos, amêndoa e chá (€7.50) e o creme de arroz doce queimado com caramelo salgado, gel de laranja e limão (€7.50). Sem surpresa mantém-se a leve tarte de framboesa (€7.50), que é um sucesso desde a abertura.
A acompanhar uma carta tão portuguesa, sugerem-se vinhos também nacionais, como os da Adega 23, da Beira (desde €26), o Fat Baron de Setúbal (€25) e outras referências de pequenos produtores. Para fãs de cocktails, nada como um dos clássicos ou a combinação de rum, Angustura, caramelo citrico e tónica (€10.50), uma proposta da Drogaria.
Quem diria que aqui já se serviu brunch
A Drogaria já passou por várias fases. Antes de ser restaurante, foi espaço das muitas memórias que levaram o proprietário Paulo Aguiar a dar-lhe uma nova vida.
“A Drogaria é um sítio especial para mim, pois é das memórias mais antigas que tenho, da infância, do bairro, de ir pela mão da minha mãe, e até de ter autonomia para fazer os recados simples”, lembra.
Quando em 2019 decidiu tornar a antiga Drogaria num espaço gastronómico, Paulo Aguiar sabia que queria manter a traça antiga e “o sabor do bairro”, com influências da estética francesa presentes no exterior, desde a escadaria às fachadas contíguas.
Assim, para dentro do restaurante, o designer Rui Ehrhardt Soares levou referências da década de 1930 e da Arte Nova, assim como de 1960, de que são exemplos os veludos nos cortinados e os sofás longos feitos à medida. Na decoração destaca-se ainda o chão de quadrados pretos e brancos, as escadas em pedra mármore iluminadas, os finos candeeiros de parede em dourado e os espelhos que dão dimensão ao espaço.
O ambiente alinha-se com a cozinha requintada que aqui se oferece, mas que em tempos teve de adaptar-se a um dos períodos mais difíceis das nossas vidas: a pandemia.
"Tentámos de tudo. Fizemos brunch, naquela altura em que só se podia abrir de manhã até às 13h. Depois fechou por completo. Como o Paulo cozinha muito bem, comida de conforto, e como as despesas não param, o Paulo cozinhava e eu fazia as entregas aqui na zona da Lapa e em Alcântara”, conta o gerente da Drogaria, Ludgero Veiga.
Após essa temporada desafiante, veio o reconhecimento desta cozinha portuguesa moderna numa Lisboa escondida ao ser integrada no Guia Michelin (em 2022 e agora em 2023), e a figurar num artigo da revista Forbes e de um jornal sueco.
O restaurante Drogaria está localizado na Rua Joaquim Casimiro n.º 8 e as reservas podem ser efetuadas por telefone (210 145 528/ 933 755 442) ou e-mail (reservas@drogaria-restaurante.pt). Encerra ao domingo e segunda-feira.