"Respirar de forma automática não significa que estejamos a fazê-lo da forma mais funcional e indicada, com nítido prejuízo para a saúde", começa por indicar Gonçalo Barradas, médico especialista em Medicina Desportiva, explicando que "é sempre importante relembrar que o conceito de saúde não se traduz apenas pela ausência de doença mas sim um “estado completo de bem-estar físico, mental e social”, segundo a OMS.
Através de treino respiratório é possível melhorar não só a saúde como a performance desportiva. Como? "O treino de controlo da respiração dá-nos as capacidades que precisamos para garantir o primeiro passo importante para qualquer prova: força mental, controlo das emoções, potenciar uma mente calma e relaxamento para aumentar a capacidade de foco e concentração", revela.
Por mais que um atleta possa ser exímio na sua prática desportiva," se não houver uma boa capacidade de concentração e de alienação aos estímulos que provocam stress ao invés da calma, não está ainda a alcançar a sua máxima performance".
"Durante o exercício é essencial que a respiração seja funcional de acordo com as necessidades metabólicas, isto é, dependendo do tipo de exigência física, adaptar o tipo de respiração para adiar o máximo possível estados de fadiga física e emocional", diz Gonçalo.
"Muitos atletas, assim que iniciam o treino, revertem instintivamente a respiração total pela boca, mesmo em esforço de baixa intensidade, o que induz a uma maior perda de temperatura corporal e a 45% mais de desidratação, se a respiração total pela boca se mantiver durante a maior parte do esforço, comparativamente à respiração nasal".
"O conceito-base a reter é que a respiração funcional é a adaptação da respiração às necessidades metabólicas do organismo. Por isso, em repouso e baixa intensidade de atividade física, a respiração deve ser exclusivamente nasal, localizada ao nível abdominal – a chamada respiração diafragmática – e deve ser calma e profunda, com uma pausa subtil entre o fim da expiração e o início da inspiração", indica o especialista.
A respiração disfuncional, ou quando respiramos excessivamente face às necessidades metabólicas do momento, "atualmente é muito prevalente devido a determinados estilos de vida, aos níveis elevados de stress, ansiedade, excesso de estímulos, que tendem a induzir a uma respiração também pela boca, localizada ao nível do tórax superior e, por isso, mais superficial e mais rápida", diz.
"A respiração funcional aplicada ao dia a dia e à prática desportiva tem inúmeras vantagens na saúde e bem-estar, que talvez possamos não correlacionar, mas deixo algumas: previne perdas energéticas e desidratação corporal, promove uma mente calma e estado de relaxamento, fortalece o core, permite uma melhor coordenação dos movimentos tornando-os fluídos, melhora a qualidade do sono, fortalece o sistema imunitário e aumenta a eficiência da oxigenação celular".
O médico especialista deixa ainda este teste rápido para avaliação da respiração:
1. É comum que te sintas tenso(a) ou sob stress?
2. É frequente sentires as mãos e/ou pés frios?
3. Costumas bocejar durante o dia?
4. Ressonas durante a noite?
5. Tens a sensação de boca seca por respirar pela boca?
6. A tua respiração é curta, rápida e torácica?
"São questões que propomos que respondas para ti mesmo(a) e que te recordes: se responderes afirmativamente a uma ou mais questões, tens elevada possibilidade de apresentar um padrão respiratório disfuncional", explica Gonçalo.
"Quantas são as vezes que se tem a sensação de não se ter controlo sobre a própria vida e sofrer-se com ansiedade por isso? Por que não controlar a a respiração e receber de volta qualidade de vida, saúde e até melhorar a performance desportiva? Quando achares que não vale a pena o esforço, relê o conceito de saúde e as vantagens de dominares o elemento-base da nossa sobrevivência, a respiração", conclui o médico.