O mundo Vista Alegre em Ílhavo
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48 Horas em Ílhavo para celebrar os 200 anos da Vista Alegre

Fundada em 1824 por José Ferreira Pinto Basto, a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre vem consolidando a sua ambição de ser uma marca global de lifestyle. E os 200 anos ficam-lhe bem, dão-lhe o charme e a criativiade para (re)imaginar o futuro.

Encontro facilmente 200 caminhos possíveis, o que é na verdade uma impossibilidade, no momento de decidir por onde começar este texto sobre os 200 anos da Vista Alegre. Em Ílhavo, há tanto e sobre tanto que não cabe aqui. Mas há aquele forno. E a forma como transforma a indústria em poesia. Falo do enorme forno túnel já sem a chama com que em 1960 cozia a porcelana, em longas e pacientes 24 horas. Desativado e substituído pelos de uma nova geração que hoje cozem as peças da Vista Alegre em cerca de seis horas, continua ali. Em plena fábrica e a ocupar uma área considerável e, muitas vezes, considerada pelo Grupo Visabeira como importante para o crescimento e expansão do negócio, mas continua ali. Chama-se cultura de marca. Para que quem visite a fábrica, mas acima de tudo para todos os que lá trabalham, sintam que há passado no futuro. Que há herança a inspirar a inovação nestes 200 anos que celebra em 2024. E que o sonho, o espírito empreendedor (quando o empreendedorismo nem era palavra na moda), a visão e a resiliência de José Ferreira Pinto Basto, o fundador desta que foi a primeira unidade industrial dedicada à produção de porcelana no país, têm uma versão contemporânea.

Acredito que não estarei sozinha no velho hábito de à mesa, virar o prato à procura do carimbo Vista Alegre. A garantia do melhor made in Portugal, sinónimo de um produto de luxo e de uma qualidade de excelência, de artesanias que irão sempre existir mesmo quando a tecnologia agiliza os processos e o progresso, de uma indústria que é trabalhada como uma arte, de design que se tem traduzido, por exemplo, em colaborações com artistas contemporâneos consagrados ou na criação do IDPool, o laboratório que recebe criativos de todo o mundo para que o diálogo da marca seja global. Destacar um produto, uma coleção, uma colaboração ou um projeto é uma tarefa hercúlea, numa marca com mais de 10 mil referências diferentes vendidas no último ano, e que da porcelana já se expandiu até ao têxtil. E depois há o que vi, mas que não posso contar, como a peça que será oferecida ao Papa Francisco na visita a Portugal (existem duas, a segunda ficará no Museu da Vista Alegre), ou o processo criativo em curso na criação da peça comemorativa dos 200 anos.

O Turismo Indústrial assumiu-se como uma tendência e em Ílhavo a estratégia acompanha a procura. Ao património do lugar, acrescenta-se contemporaneidade à experiência. Em 48 horas gerem-se as horas passadas no Museu com a história e os registos desde a fundação da marca até aos dias de hoje, na visita à Capela da Nossa Senhora da Penha da França, e econtra-se naturalmenete sempre tempo para aquele momento shopping nas lojas da Vista Alegre e da Bordallo Pinheiro. Sabendo que do outro lado da rua, nos espera o conforto, o design, a gastronomia e a hospitalidade do Hotel Montebelo Vista Alegre.

Nesta viagem imersiva ao mundo da Vista Alegre, a realidade é aumentada pela memória e a experiência de estarmos em pleno bairro operário construído em 1824 para os trabalhadores da fábrica, com moradias, teatro, refeitório, barbearia, o corpo privativo de bombeiros mais antigo do país, clube de futebol (os bisnetos do fundador introduziram a modalidade em Portugal), e até uma creche. José Ferreira Pinto Basto não era só um homem de ideais liberais e visionário nos negócios, estava também à frente do seu tempo nesta visão humana e de justiça social, criando condições para os operários viverem próximo do trabalho, e infraestruturas que permitiam que toda a sua família pudesse também aqui crescer.

É precisamente no Bairro Vista Alegre que passo as duas noites, as antigas moradias dos trabalhadores da fábrica convertidas num novo conceito de alojamento do Hotel Montebelo. Há quem prefira os traços mais modernos e minimalistas dos quartos da Ala Nova com vista para a piscina exterior aquecida, e há clientes que, a cada regresso, pedem o mesmo quarto, pelo charme ou história que conta, no Palácio dos Fundadores, o edifício secular e residência da família. A escolher a história, ficaria com as histórias do quarto do Bispo, onde há toda uma outra história de uma porta e de uma passagem secretas. Para quem procura um ambiente mais intimista, o lugar onde viveu o primeiro pintor da Vista Alegre, o francês Victor Rousseau, é hoje o Palácio dos Mestres Pintores, com 13 quartos decorados com peças da marca exclusivamente pensadas para cada um dos espaços. A experiência no Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel deve incluir a gastronomia do Restaurante e um momento de entrega aos cuidados e às mãos das terapeutas do Spa.

Os dias de um hotel ser simplesmente uma cama para dormir, já tiveram os seus dias. A tendência mostra o aumento das marcas de luxo e lifestyle no território da hospitalidade, onde os consumidores vivem de outra forma os seus valores e propostas de estilo de vida. Aos 200 anos, a Vista Alegre é uma marca de Portugal para o mundo presente em mercados que vão do Brasil à Ásia , mas é aqui em Ílhavo, da fábrica e do seu terreiro central ao quarto no hotel, que ganha mundo. E pensar que há 200 anos, quando as estradas eram más ou inexistentes e as encomendas chegavam em cacos aos clientes nas cidades, foi preciso mandar vir do norte de África camelos para as transportar ao longo da costa, com a areia que conheciam bem a proteger a frágil porcelana. Os 200 anos também são memórias como esta, ainda que umas mais exóticas do que outras.

 

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