SOMA Surf | Fotografia: D.R.
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O surf é só um meio. O fim da SOMA é apoiar raparigas em São Tomé

O projeto SOMA Surf nasceu em São Tomé e por lá começaram aulas de surf terapêutico para raparigas. Hoje a missão é muito maior e tu podes fazer parte.

Quantas vezes não sentiste já medo, raiva, alegria ou tristeza? São de certo emoções familiares e que já terás sentido pelo menos uma vez na vida. Mas várias raparigas de São Tomé, capital da ilha de São Tomé e Príncipe, na África Ocidental, afirmam que não, pelo menos até ao dia que foram acolhidas pelo programa SOMA Surf.

“Os resultados são exponenciais ao ponto de nenhuma rapariga, antes da intervenção, saber identificar as duas emoções básicas. Agora temos 74% das raparigas a saber reconhecer as suas próprias emoções", avança Francisca Sequeira, com 32 anos, fundadora da SOMA Surf. 

SOMA significa, por outras letras, Surfistas Orgulhosas na Mulher de África, e pelo nome percebemos que há uma ligação entre o surf e esta ilha africana. Mas a modalidade é só um meio para que o projeto atinja os seus objetivos: ser sinónimo de empoderamento feminino, um impulsionador de bem-estar psicológico e uma forma de melhorar as condições de educação das raparigas são-tomenses. E todos podemos fazer parte desta missão.

Como nasceu a SOMA Surf 

Francisca Sequeira começou por estudar Publicidade e Marketing, curso que não terminou para dar lugar a outro projeto na área do turismo, antes de se tornar assistente de bordo. Foi nessa profissão que conheceu São Tomé, a que se mantém ligada até hoje graças à SOMA Surf, o projeto que criou para impulsionar a prática de surf nas raparigas da ilha.

"Em São Tomé o surf era só para os rapazes, tal como as tarefas domésticas são só para raparigas. O facto de não haver em São Tomé, uma única mulher a surfar, revela a descriminação e desigualdade de género por parte da sociedade no geral”, refere à Versa. 

Era preciso então algo que motivasse as raparigas e mulheres a desafiarem-se na prática de surf, ganhando confiança nelas próprias para contrariar a realidade do país. Um país que, entendeu Francisca, precisava de muito mais do que surf.  

O surf como terapia e passo para a educação

Entendemos o surf como uma prática desportiva, mas para Francisca Sequeira pode ser mais do que isso. Vê a modalidade como uma terapia que, efetivamente, “não pode, por si só, resolver desafios sociais, económicos e ambientais complexos”, mas “pode servir sim como um meio e como, por exemplo, uma forma de contribuir para o desenvolvimento de jovens em comunidades desfavorecidas”. 

Para isso, a SOMA Surf juntou ao projeto um programa de desenvolvimento e empoderamento pessoal, que oferece não só apoio académico, como psicoeducação, num trabalho completar com profissionais de saúde mental.  

 

“A forma como o surf contribui para a saúde mental das beneficiarias da SOMA é mais simples do que aquilo que possa parecer. Estamos a falar de raparigas que estão expostas a inúmeras situações stressantes e traumáticas, como violência doméstica, abuso sexual, abandono, etc. O trauma psicológico desenvolve-se nestas raparigas quando estes acontecimentos não recebem a atenção necessária para libertar a dor do corpo físico e/ou emocional. Sendo que o trauma habita nos seus corpos, a forma de iniciar o processo de cura é envolver esses mesmos corpos no processo. E a prática do surf convida todo o corpo, mente e espírito para o processo terapêutico, de uma forma não só incrivelmente transformadora, como também divertida, o que facilita o processo de cura”, refere Francisca.

A realidade nas escolas de São Tomé 

Uma coisa é ir de férias para São Tomé e em dias descobrir as maravilhas do país e contactar com os locais que recebem os turistas de forma simpática, outra é perceber a verdadeira realidade. Aquela em que as raparigas vivem e lidam com os próprios traumas, são educadas a não procurar ajuda e a esconder emoções e não têm condições dignas de educação.

"Muitas escolas carecem de instalações básicas, sem casas de banho e, por vezes, existe escassez de cadeiras e mesas, o que faz com que os alunos tenham que assistir às aulas de pé”, aponta a fundadora da SOMA Surf. A  isto junta-se a falta de materiais didáticos e manuais escolares, de acesso à Internet, e até de professores qualificados.  

Vive-se uma situação de profunda precariedade nas escolas, que para resolver exigiria esforços do governo e do ministério da educação. Mas uma vez não existido, a SOMA Surf tem feito o que está ao seu alcance nos últimos três anos, tendo dado a mão a 90 raparigas até ao momento através da intervenção de Surf-terapia.

Nestas sessões, as raparigas têm apoio nos trabalhos de casa e nos estudos e ainda nos trabalhos de pesquisa pedidos pelos professores “para colmatar a inexistência de manuais escolares”. "Muitas das nossas raparigas só conseguem estudar durante este período devido à forte carga de trabalhos domésticos que enfrentam em casa”, lamenta Francisca.  

Mas aos poucos, surfar e estudar vai-se tornando mais fácil e não é só a SOMA Surf que pode ajudar. 

Como ajudar neste novo ano letivo?  

Está prestes a começar um novo ano letivo em São Tomé e, por mais um ano, a SOMA Surf vai intervir. A partir de outubro, será disponibilizada uma sala de estudo "para que todas as SOMAs consigam ter o apoio escolar que necessitam numa base diária". Mas esta não é a única iniciativa.  

“Pela primeira vez na história da SOMA, iremos oferecer as propinas escolares a todas as 40 raparigas inscritas no programa de surf-terapia. Além disso, reconhecendo que a falta de material escolar é uma realidade que todas enfrentam, estamos a trabalhar para garantir que cada rapariga recebe material escolar para um ano letivo”, conta Francisca Sequeira.  

E como a educação não é a única área precária na ilha de São Tomé, o projeto pretende doar uma capa de chuva a cada uma, “pois devido ao clima tropical e às fortes chuvas, muitas acabam por faltar a escola por não terem esta proteção”, assim como um kit menstrual composto por pensos e cuecas reutilizáveis, “sendo que a pobreza menstrual é uma das principais causas para a baixa assiduidade escolar das raparigas”.  

“A nossa missão neste regresso às aulas passa por assegurar que estas 40 raparigas têm tudo aquilo de que necessitam para se focar em ser mulheres do amanhã e regressarem à escola cheias de vontade de um futuro diferente”, remata Francisca.

 

Aos 32 anos, a fundadora da SOMA Surf ajudou a mudar a vida de dezenas de raparigas são-tomenses, e, mesmo à distância, qualquer um de nós o pode fazer. Basta doar.  

Está a decorrer uma campanha de angariação de bens ou donativos até dia 14 de setembro e isto é tudo aquilo com o qual podes contribuir:

  • Kit Escolar: mochila; estojo; kit canetas; seis lápis; afia; duas borrachas; pasta para documentos. Ou o equivalente por €28. Extra: capa da chuva.  
  • Kit menstrual: dois pensos reutilizáveis; duas cuecas reutilizáveis. Ou o equivalente por €30.  

O valor dos kits pode ser enviado para a conta da organização (IBAN: PT50 0018 0003 5369 7140 0202 1) e as doações podem ser enviadas para a seguinte morada: Rua dos Navegantes n 48 2E 1200-732. 

Qualquer informação adicional, doação específica ou parceria, pode ser enviada para o e-mail da SOMA Surf (iinfo@somasurf.com).  

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