A Casa Velha do Palheiro na Madeira
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Dormi na Casa do Conde boémio e sonhei com as suas festas escandalosas

A Casa Velha do Palheiro na Madeira foi o primeiro hotel em Portugal a integrar a cadeia Relais & Châteaux. Guarda mais de 200 anos de história(s), algumas de tirar o sono. Ou fazer sonhar.

O Hotel Casa Velha do Palheiro – Relais & Châteaux é um retiro de luxo na Ilha da Madeira, com o charme de uma casa senhorial com mais de 200 anos e a sofisticação de um cinco estrelas para o viajante contemporâneo exigente e, curiosamente, cada vez mais jovem. Estamos a minutos do centro do Funchal, mas o único som que se faz ouvir é o dos pássaros e o ar está perfumado pelas camélias do jardim. Sentimo-nos afastados de tudo e de todos. E é só uma sensação. Mas que sabe tão bem. Tal é o magnetismo do lugar, o imagético das suas histórias, os hectares e hectares de jardim que criam uma fronteira natural com o mundo lá fora. E vem a vontade de viver tudo isto e tudo ao mesmo tempo. Mas com tempo.

No topo da propriedade, a Casa Velha impõe-se como uma das grandes protagonistas deste símbolo de hospitalidade madeirense, há várias gerações nas mãos da família Blandy. Mas há outras personagens, que no seu tempo e à sua maneira, ajudaram a construir o carácter inigualável da Casa Velha do Palheiro. Entra-se a pensar apenas numa boa cama e um bom pequeno-almoço, sai-se com mais bagagem. Aqui, a experiência pesa muito.

A história não nos é contada de empreitada, como que encomendada. Vai-se descobrindo em encontros mais ou menos casuais pela voz de quem aqui trabalha, que com naturalidade e autoridade no tema, nos revela uma curiosidade em plena visita ao jardim, ou um episódio mais escabroso à luz de velas durante o jantar. Vou juntando os capítulos, os protagonistas, imaginando este lugar num outro tempo e o sentido do enredo.

A Casa é um lugar. Mas é, acima de tudo, Pessoas. São elas que ainda hoje dominam as conversas, são a alma do hotel que parece uma casa de família. Que o é. Temos então o 1.º Conde de Carvalhal da Lombada, que criou a Quinta do Palheiro por volta de 1801 e construiu a Casa Velha e a capela anos mais tarde. Apesar da sua riqueza, é recordado como um homem que vivia sem luxos, um liberal e generoso com os mais desfavorecidos na ilha. Esta era a sua Casa de Campo e Pavilhão de Caça, palco de bailes e piqueniques onde recebia ilustres como a arquiduquesa Leopoldina da Áustria, quando em 1817 passava pela Madeira a caminho do Brasil para casar-se com Dom Pedro I. Muitas das imponentes árvores que hoje vemos na propriedade foram importadas pelo Conde, que morreu solteiro e deixou a herança ao sobrinho. “Mas eram pessoas muito diferentes!” é uma expressão que vamos ouvindo nesta visita.

Talvez porque a personalidade exuberante do 2.º Conde do Carvalhal da Lombada pode fazer corar a discreta Quinta Velha do Palheiro. Bon vivant, mulherengo e amante de luxos, ficou conhecido pelas festas sumptuosas, algumas de natureza supostamente escandalosa. Conta-se que para uma delas convidou as senhoras a usar como traje apenas joias e sapatos de salto alto. O estilo de vida despesista levou-o à ruína, foi forçado a vender a propriedade e mudava o futuro da Quinta.

Falta então falar da família Blandy. Em 1885, John Burden, a 3.ª geração Blandy na ilha, compra a Quinta do Palheiro em hasta pública, um “elefante branco” criticaram os amigos e familiares, mas que era apenas o início do projeto que chega aos nossos dias como uma das mais emblemáticas Quintas da Madeira. Pelas paredes da Casa, entre quadros e fotografias, onde até se descobre os dias aqui passados por D. Carlos I e D. Amélia, vamos vivendo nesta espécie de viagem entre o passado e o presente.

A Casa Velha do Palheiro faz parte do Palheiro Nature Estate e, desde que foi comprada pela família Blandy, as sucessivas gerações mudaram o rumo da atividade, da agricultura tradicional para o turismo e lazer.

Hoje, é um retiro perfeito para quem procura uns dias de descanso num lugar de memórias e que nos fica na memória. O tempo divide-se entre passeios pelos seus famosos jardins; no campo de golfe profissional de 18 buracos com vistas soberbas; na tranquilidade do Spa; em almoços no Vista Balancal com o Atlântico mesmo à nossa frente.

Com tempo para provar e abusar dos scones quentes no tradicional Chá da Tarde; de noites à luz de velas na elegância intemporal do Restaurante Casa Velha com o conceito “Garden-to-table” do Chef Gonçalo Bita Bota, que criou recentemente a sua Kitchen Garden", cultivando uma experiência sustentável da horta à mesa. E até para aproveitar a embarcação privada do hotel - o Balancal para uma saída de pesca desportiva e, no regresso, pedir para cozinhar o peixe no hotel, ou simplesmente partir para uma aventura de observação de baleias e golfinhos ao largo da Ilha.

E claro, e não menos importante, a experiência de abraçar mais de dois séculos de tradição familiar nos quartos e suites ao estilo inglês romântico e clássico, com o conforto, a exclusividade e uma elegância contemporânea. Os interiores são num equilíbrio entre tons naturais e apontamentos de cor como que numa viagem pela Quinta.

Os meus dois dias é muito pouco para o tanto que são estes 200 anos da Casa Velha do Palheiro.

Vê a galeria de imagens com uma visita guida a este Hotel. 

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