Fotografia Tim Burton: Getty | Edição: Vasco dos Santos
Controversa

ControVERSA. A guerra contra a série Wednesday chama Tim Burton de racista

O mundo só é um lugar crítico e mesquinho porque vivemos nele. Gostam da série Wednesday, mas boicotam Tim Burton. As batalhas são válidas, mas parecem ter lugar noutra guerra.

 

Nada pode ser bom demais e parece que é cada vez mais difícil ficarmo-nos pelos elogios. Tim Burton pode ser genial, a série Wednesday pode servir bem o propósito de a todos entreter e levar numa mesma viagem pelo universo sobrenatural e de apreciação democrática do cineasta, mas o mundo tem de encontrar falhas. De preferência, escarafunchar coisas ditas e não ditas no passado e tentar dar-lhes significado no presente para sustentar acusações bem graves.

Se Tim Burton teve em agenda propósitos racistas, xenófobos ou qualquer outra visão perversa na direção da série, é muito difícil aferir, principalmente quando estamos entregues à magia da trama e das personagens por ele, em parte, desenhadas. Ainda assim, muitos de nós já tomaram nota das suas “escolhas imorais”, mesmo que confessem gostar da série.

Wednesday, que explora o universo de A Família Adams através da personagem Wednesday Adams (Jenna Ortega), tem batido recordes na plataforma de streaming Netflix e as críticas dos entendidos explicam bem o sucesso. Os não tão entendidos ou meros espectadores também se deliciam com a história. Mas, mais uma vez, há sempre quem procure pelo borboto.

A história repete-se e voltam a acusar o cineasta de racismo pela escolha de elenco. A representatividade de raças e etnias está presente no casting, mas o problema parece estar na distribuição de papeis. A atriz nigeriana Joy Sunday interpreta a (não tão) antagonista Bianca Barclay, que inicialmente se apresenta como a grande vilã, e o ator Iman Marson veste a pele de Lucas Wilson, também bandeado para o lado dos maus da fita. Ainda que, perdoem-me o spoiler, eles até se tornem bonzinhos, são vilões de raça negra e isso parece ser um problema.

Para muitos, tal mostra o racismo de Tim Burton, e até o provam na recuperação das palavras do cineasta em 2016 sobre o filme A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares. De uma forma genérica, Tim Burton disse que a diversidade cinematográfica não era uma preocupação, o que a muitos na altura revoltou, mostrando-se mais do tipo de escolher os atores por acreditar no seu talento do que preferir o “politicamente correto”.

Mas se a teoria da raça negra com o propósito antagónico não serve de crítica, há quem traga desconfortos mais sólidos e ponha em perspetiva “a falta de consideração pela Negritude”. No caso, condenam a entrega da personagem Mayor Walker a Tommie Earl Jenkins, já que o ator surge na trama como proprietário da Pilgrim Land, terra que simboliza um espaço-tempo de sofrimento para as raças oprimidas.

As batalhas são válidas, mas talvez a guerra não tenha de ser travada em solo Burtoniano. Ainda assim, se o boicote for ignorado, talvez possamos vir a beber do imaginário de Tim Burton numa segunda temporada. Sim, Alfred Gough e Miles Millar são os responsáveis pelo projeto, mas, sejamos sinceros, aqui a magia é do mestre.

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