Bruno Contreras, Marcelo Oliveira e Bruno Caseiro | Fotografia: Joana Freitas
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Vinho, descontração e comida de partilha, assim se faz a Cav 86

No que era o antigo espaço da Cavalariça Lisboa, nasceu um gastro wine bar descontraído. Aos comandos encontramos Marcelo Oliveira, a servir comida de partilha.

Quem percorre a Rua da Boavista, em Lisboa, é quase inevitável não se sentir tentado a entrar num dos vários bares e restaurantes que ocupam os rés-do-chão dos prédios de traça antiga reabilitados que dão uma nova vida a esta zona que liga o Cais do Sodré a Santos. O azul da fachada do número 86 poderá, no entanto, não ser totalmente desconhecido para alguns –  uma vez que foi neste local que Bruno Caseiro deu vida em tempos ao Cavalariça Lisboa. Mas, no interior, deparamo-nos com um espaço totalmente diferente daquele que conhecíamos. 

Depois de ter fechado portas em setembro passado, o espaço continua a estar ligado ao chef da Cavalariça, mas a ele juntou-se a Harvest Cotton Tail,  uma empresa de hotelaria detida por Bruno Contreras e Abdul Baaghil. E assim nasceu a Cav 86, com um novo conceito totalmente diferente do que é posto em prática nos restaurantes Cavalariça [na Comporta e em Évora]. 

“Se tivesse de apresentar a Cav 86 diria que é um gastro wine bar”, explica Marcelo Oliveira, 30 anos, no final de uma noite de serviço, depois de termos provado alguns dos pratos que aqui está a servir desde junho, quando o espaço reabriu com um novo conceito mais descontraído, que contrasta com as propostas gastronómicas mais elaboradas dos restaurantes Cavalariça.

É ele o responsável pela cozinha do Cav 86, depois de ter trabalhado em São Paulo com Rodrigo Oliveira, um dos mais influentes chefs brasileiros e de, por cá, ter passado pelas cozinhas de Henrique Sá Pessoa, da Tasca Pete ou da Taberna Sal Grosso. “Tentámos fazer um restaurante mais ao estilo desta rua, que tem vários wine bars, e é um lugar super agitado, com comida de partilha”, continua Marcelo Oliveira, que chegou a Portugal em 2019, poucos meses antes de a pandemia se instalar.

Numa carta composta por pequenos pratos, pensados para partilhar à mesa, as influências de todos os que tomam parte no projeto fazem-se sentir. “Tem a minha parte, sendo eu brasileiro; o Contreras é franco-marroquino e o Caseiro é português. Tentamos juntar todas estas influências dentro da Cav 86”, detalha Marcelo Oliveira. 

Um dos pratos que provámos, a costela mendinha de vaca com molho de chimichurri e farofa de ananás (€19,50),  é um exemplo dessa troca de influências, pondo a descoberto as raízes brasileiras de Marcelo Oliveira. Mas regressando ao início do nosso jantar, as influências portuguesas estão desde logo presentes com o pão servido com manteiga Rainha do Pico e azeite Egitânia para molhar, e umas ostras de Setúbal servidas com uma granita de maçã verde (€4/uni). 

Num registo mais descontraído e dando azo à criatividade, chegam-nos também à mesa uns croquetes de batata com espuma de creme de queijo trufado (€6); um coração de burrata com funcho, pistáchios, picle de morango e crumble de pão (€9) ou uns filetes de cavala servidos em pão brioche, com funcho, creme de anchova, ovas de truta e manjericão (€10).

Independentemente de conceitos e de influências, para Marcelo Oliveira o que distingue um restaurante “é a energia das pessoas”. “O que faz o lugar ser especial são as pessoas. A energia que estamos transformando aqui dentro vai fazer a diferença e comida boa em Lisboa não falta”, argumenta. 

Por agora, Marcelo está a tentar “fixar os pratos”, como a garoupa com molho à Bulhão Pato, laranja e funcho (€12,50) ou o alho francês grelhado, que é servido com um molho miso, avelãs e cebolinho (€9), para que as pessoas entendam o que estão a querer pôr em prática na Cav 86. Depois, “a ideia é trocar a carta sazonalmente”, fazendo uso de uma rede de produtores partilhada por Bruno Caseiro e, em grande medida, composta por novas descobertas feitas por Marcelo Oliveira. “Por agora, temos a costela mendinha, mas não é algo que vá estar sempre na carta. Rodar é também o que fomenta a criatividade na cozinha”, afirma. 

Na Cav 86, o vinho é também uma parte importante da equação. A carta é composta por vinhos de pouca intervenção e outras referências que seguem métodos de vinificação mais tradicionais, mas sempre de pequenos produtores. “Diria que é 70% vinhos naturais e os outros 30% de vinhos comuns”, elucida Marcelo Oliveira.

Mas houve ainda espaço para sobremesas. O pudim de queijo de cabra com crumble de queijo de São Jorge, poejo e azeite (€6) ou o sorvete de alperce (€6), crumble de amêndoas, servido com um toffee de especiarias, da autoria da chef pasteleira Vanessa Neme são um belo remate a uma refeição descontraída.

Por agora, ainda há coisas a afinar, reconhece Marcelo Oliveira. Mas o mais importante para o chef que já trabalha há 11 anos, “é pensar no bem-estar das pessoas dentro da cozinha”. “Muitas pessoas desistem da área, vão trabalhar para um call center, só porque não aguentam o dia a dia de uma cozinha e o facto de ser cansativo e de se receber mal. Acho que mudar isso é o que me motiva porque, de resto, eu cozinho o que gosto de comer.”

Morada: Rua da Boavista, 86, Lisboa

Horário: Ter-sáb., 13h-00h

Preço médio: €35

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